O que é Shiva e Shakti? A união divina no Tantra

Por Christiano Kubis (Dhyan Bahvti)

No universo tântrico, poucos conceitos são tão profundos e fundamentais quanto o significado de Shiva e Shakti no Tantra. Esses dois princípios arquetípicos representam, respectivamente, a consciência pura e a energia criativa. A relação entre eles não é apenas uma metáfora espiritual, mas também um reflexo da dinâmica entre o masculino e o feminino, o espírito e a matéria, o estático e o dinâmico. Para quem se aventura pelos caminhos do Tantra, compreender Shiva e Shakti é mergulhar em uma sabedoria ancestral que transcende o simples entendimento racional, oferecendo uma visão holística e integrada da existência.

Shiva: a consciência pura e o imutável

No panteão hindu, Shiva é visto como o deus supremo da destruição e da regeneração, mas sua representação no Tantra vai muito além desse papel. No contexto tântrico, Shiva é a personificação da consciência pura, o princípio estático e transcendente que permeia todo o universo. Ele representa o aspecto imutável da realidade, aquele que está além das dualidades e dos ciclos de nascimento e morte. Shiva é o observador silencioso, a presença eterna que está além do tempo e do espaço.

Shiva é frequentemente retratado como um asceta, que é uma pessoa que pratica a austeridade e a disciplina em busca de um ideal espiritual. No contexto do Tantra, o ascetismo se refere à renúncia aos prazeres mundanos e à busca por um estado de consciência mais elevado. Os ascetas muitas vezes se dedicam a práticas rigorosas de meditação, oração e reflexão, visando a purificação do corpo e da mente. No entanto, é importante notar que o ascetismo no Tantra não implica necessariamente a negação do corpo ou da sexualidade, mas sim uma compreensão profunda do equilíbrio entre o prazer e a espiritualidade. Sua quietude e serenidade demonstram a natureza estática da consciência, que permanece inalterada, independentemente das transformações externas. Ele é o absoluto, o vazio pleno, que aguarda a manifestação da energia para dar origem à criação.

Shakti: A Energia Dinâmica e Criativa

Shakti, por outro lado, é a personificação da energia dinâmica e criativa. Se Shiva é a consciência pura, Shakti é a força que movimenta e transforma essa consciência em ação. No Tantra, ela é vista como a Mãe Divina, a fonte de toda criação, e sua energia está presente em todas as formas de vida e em todas as manifestações do universo.

Shakti é vibrante, mutável, e suas manifestações podem ser tanto sutis quanto intensas. Ela é o fluxo vital que anima a existência, sendo responsável por todos os processos de transformação e evolução. Enquanto Shiva é o princípio que mantém o cosmos em equilíbrio, Shakti é a força que o movimenta e o transforma.

Em termos simbólicos, Shakti também representa o princípio feminino divino, a kundalini— a energia adormecida na base da coluna vertebral que, ao ser despertada, ascende em direção a Shiva, no topo da cabeça, unindo a energia criativa com a consciência pura.

A Dança Cósmica: A União de Shiva e Shakti

No Tantra, Shiva e Shakti não podem existir isoladamente. Eles são duas faces de uma mesma moeda, e sua união é o cerne de toda a prática tântrica. Juntos, eles formam o equilíbrio perfeito entre o estático e o dinâmico, o imutável e o mutável, o espírito e a matéria. Sem Shakti, Shiva é apenas um princípio imóvel e sem expressão. Sem Shiva, Shakti é energia sem direção.

Essa união é representada em várias práticas e símbolos tântricos. Um dos mais conhecidos é a imagem de Ardhanarishvara, uma figura andrógina que combina metade do corpo de Shiva com metade do corpo de Shakti, simbolizando a perfeita harmonia e equilíbrio entre os dois princípios. Outro símbolo poderoso dessa união é a prática da meditação tântrica, na qual o praticante busca integrar os aspectos masculinos e femininos dentro de si, transcendendo as dualidades e alcançando a plenitude espiritual.

O significado de Shiva e Shakti no Tantra

A filosofia tântrica vê o mundo como uma expressão contínua da dança entre Shiva e Shakti. Todos os fenômenos são manifestações dessa interação dinâmica entre a consciência e a energia. No Tantra, não há rejeição do mundo material. Pelo contrário, ele é visto como uma extensão do divino, e a prática tântrica ensina a transcendência através da integração.

Essa visão não dualista implica que a iluminação não pode ser atingida através da negação dos aspectos físicos e emocionais da existência, mas sim pela aceitação e transformação dessas energias. Quando a energia (Shakti) é direcionada de maneira consciente e clara pela presença (Shiva), ocorre o despertar espiritual e a elevação da consciência.

Reflexões Contemporâneas: Shiva e Shakti no mundo moderno

Hoje, muitos praticantes de Tantra encontram em Shiva e Shakti não apenas símbolos espirituais, mas também metáforas poderosas para os desafios da vida moderna. No contexto das relações humanas, por exemplo, essa união pode ser vista como o equilíbrio necessário entre o aspecto racional e emocional, o controle e a entrega. No campo do desenvolvimento pessoal, o equilíbrio entre a quietude interna (Shiva) e a ação externa (Shakti) se torna uma chave para o sucesso e a realização plena.

Na prática da massagem tântrica, o conceito de Shiva e Shakti é central. O terapeuta busca não apenas despertar a energia (Shakti) do receptor, mas também conduzir essa energia para um estado de equilíbrio e harmonia com a consciência (Shiva). Esse processo é visto como uma cura energética e espiritual, na qual o praticante se torna um canal para a união dessas duas forças.

O Caminho da Unidade

No Tantra, a união de Shiva e Shakti é muito mais do que um conceito teórico ou filosófico. Ela é uma experiência viva e transformadora, que se reflete em todas as práticas e vivências do praticante tântrico. Entender e integrar esses princípios em nossa vida cotidiana nos convida a buscar a unidade em meio às dualidades, a encontrar o sagrado no mundano, e a descobrir que a verdadeira iluminação não está em rejeitar o mundo, mas em abraçá-lo plenamente com consciência e energia.

Para refletir e despertar

Assim, ao refletirmos sobre a relação entre Shiva e Shakti, somos convidados a questionar: como podemos integrar essas energias em nossas vidas? De que maneira podemos equilibrar a ação e a contemplação, a energia criativa e a consciência plena? Cada um de nós carrega dentro de si a essência de Shiva e Shakti, e a jornada de autoconhecimento e transformação começa com o reconhecimento dessa união. Que possamos, então, dançar essa dança cósmica, permitindo que a consciência e a energia se entrelacem em nossas experiências diárias.

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Christiano Kubis (Dhyan Bahvti) é autor do livro Raízes Tântricas, parte da série Tantra Sem Segredos. Terapeuta corporal e vibracional com abordagem tântrica. Facilitador de práticas tântricas individuais, terapia tântrica, massagem tântrica, meditação, cursos privativos, atividades em grupo e coordenador de Formação em Tantra e Capacitação em Terapêutica Tântrica em Curitiba.

Ebook Raízes Tântricas: https://labdespertar.hotmart.host/raizestantricas

Saiba mais sobre o Bahvti: https://www.labdespertar.com/dhyanbahvti

Referência: KUBIS, Christiano; BAHVTI, Dhyan. O que é Shiva e Shakti? A união divina no Tantra por Christiano Kubis (Dhyan Bahvti) em Integrolab Labdespertar Desenvolvimento Humano: https://www.labdespertar.com/. Publicado em: 23 set. 2024.

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