Qual é a diferença entre prazer consciente e inconsciente?

Por Christiano Kubis (Dhyan Bahvti)

Quando falamos sobre prazer, geralmente pensamos em momentos de felicidade e satisfação. Mas será que todo prazer é igual? O prazer consciente, aquele que vem com intenção e presença, difere do prazer inconsciente, impulsivo e muitas vezes compulsivo. E essa diferença não está apenas em nossa percepção, mas também nos circuitos cerebrais que ativamos em cada caso. Neste artigo, exploro essas duas formas de prazer, suas armadilhas e benefícios, trazendo também uma perspectiva da psicologia e neurociência para um entendimento mais profundo das nossas escolhas e comportamentos.

Freud e o prazer: o Princípio da Realidade vs. O Princípio do Prazer

Sigmund Freud, pai da psicanálise, foi pioneiro ao discutir a tensão entre o que ele chamava de princípio do prazer e princípio da realidade. O princípio do prazer busca gratificação imediata e a fuga de qualquer desconforto, características típicas do prazer inconsciente. Para Freud, o inconsciente é regido por esse impulso de satisfação, um desejo primordial de evitar a dor e maximizar o prazer, seja através de comportamentos sexuais ou outras formas de gratificação. Por outro lado, o princípio da realidade representa uma moderação consciente, que busca equilibrar as demandas do prazer com as exigências do mundo externo. Aqui, já podemos vislumbrar uma ponte com o que chamamos de prazer consciente – uma forma de prazer que leva em consideração o contexto, o longo prazo e o significado profundo por trás das escolhas que fazemos.

Enquanto o prazer inconsciente é impulsivo e muitas vezes autodestrutivo, o prazer consciente se constrói com base em reflexões, desejos mais profundos e uma intenção clara. Mas como isso se manifesta no cérebro?

A Neurociência do Prazer: dopamina e circuitos de recompensa

O cérebro possui circuitos específicos que regulam o prazer, sendo o principal deles o circuito de recompensa, no qual a dopamina – um neurotransmissor essencial para o bem-estar – desempenha um papel crucial. A dopamina é conhecida como um dos "hormônios da felicidade", e sua liberação provoca sensações de prazer, satisfação e aumento da motivação.

Quando sentimos um prazer imediato – como ao comer algo saboroso ou em momentos de excitação sexual – a dopamina é liberada, gerando uma sensação de euforia. No entanto, essa gratificação rápida pode levar a comportamentos compulsivos, pois o cérebro se condiciona a buscar repetidamente essa mesma sensação. Pense naquela vontade irresistível de fumar, tomar um café ou checar as redes sociais assim que acorda, sem sequer questionar o motivo. Isso exemplifica o prazer inconsciente, movido pela busca automática de gratificação imediata, onde o cérebro busca a liberação de dopamina para um prazer fugaz.

Já o prazer consciente vai além da dopamina. Ele envolve também áreas cerebrais como o córtex pré-frontal, responsável por funções como planejamento, autocontrole e regulação das emoções. Quando essas áreas são ativadas, o prazer se torna uma experiência mais equilibrada e significativa. Aqui, a busca por gratificação instantânea é substituída por uma satisfação profunda e duradoura.

Agora, pense em práticas como meditação, yoga, exercícios físicos ou mesmo em uma refeição preparada e consumida com atenção plena. Nessas situações, cada momento é saboreado, e você está presente em cada sensação. Isso é o prazer consciente em ação – um prazer que transcende a recompensa momentânea e promove bem-estar prolongado. É como uma arte: você não está focado apenas no resultado, mas em aproveitar o processo em si.

Quando trazemos essa consciência para as relações sexuais, podemos notar a diferença entre buscar o orgasmo ou a ejaculação como uma necessidade fisiológica, muitas vezes sem estarmos emocionalmente ou energeticamente conectados, e desfrutar do processo de troca como um todo. A entrega total, a presença em cada segundo, gera uma sensação de plenitude que vai além do físico.

A escolha é sua: seguir pelo caminho do prazer inconsciente ou abraçar o prazer consciente, transformando suas experiências em algo verdadeiramente profundo e satisfatório.

Neuroplasticidade e a transformação de hábitos

A neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões neurais, é um dos maiores trunfos do prazer consciente. Quando praticamos atenção plena (mindfulness) ou técnicas como a meditação, ativamos áreas do cérebro que melhoram o controle emocional e a capacidade de tomar decisões mais alinhadas com nossos desejos mais verdadeiros e autênticos.

Quantas vezes você realmente desfrutou de uma experiência prazerosa sem estar distraído(a) com o celular ou preocupado(a) com o próximo compromisso? Prazeres conscientes são raros, mas altamente transformadores. Isso significa que, com tempo e prática, podemos reconfigurar nossos padrões de prazer, abandonando hábitos inconscientes que nos conduzem a gratificações momentâneas e substituindo-os por comportamentos conscientes que trazem bem-estar e equilíbrio consistentes. Assim, o prazer consciente não é apenas uma questão de escolha momentânea, mas um treinamento contínuo do cérebro para buscar aquilo que verdadeiramente nos preenche em todos os níveis: físico, emocional, mental e energético.

A Teoria do Fluxo: estar plenamente imerso no momento

O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi trouxe à tona o conceito de flow/fluxo – um estado mental em que estamos totalmente imersos em uma atividade, com foco, engajamento e uma sensação de satisfação profunda. No sexo, nas práticas tântricas e na sexologia somática, o estado de fluxo pode ser experimentado quando estamos completamente presentes, conectados com o/a parceiro(a) ou com nós mesmos, permitindo que o prazer seja mais intenso e consciente.

Já experimentou um momento em que parecia que o tempo havia parado e você estava totalmente absorvido(a) pela experiência? Esse é o estado de flow/fluxo, onde o prazer não é uma mera resposta automática aos estímulos, mas um processo que vai além do tempo e do espaço na integração corporal, emocional, mental e energética (ou espiritual) em harmonia.

Esse conceito se alinha diretamente com o prazer consciente, onde a presença no momento é o ponto central. Ao entrar no estado de flow o prazer não é apenas mais intenso, mas também mais significativo. É por isso que batizamos o Método Labdespertar de Massagem Tântrica de Integral Flow (integração + fluxo).

Recentemente, atendi um cliente — que chamamos de interagente para enfatizar sua participação ativa durante a sessão — que optou por um de meus serviços mais abrangentes, uma vivência que incluía meditação e massagem tântrica. No entanto, ele não seguiu nenhuma das minhas orientações: não respirou, não liberou movimentos, não soltou sons, parecia não estar conectado consigo mesmo e com as sensações. Com os olhos abertos e sem foco, sua desconexão impediu a vivência plena do momento. Essa situação sugere que ele pode ter contratado o serviço de forma inconsciente, sem compreender realmente suas próprias intenções, o que o impediu de entrar no estado de flow (fluxo).

O objetivo da sessão é a experiência em si e não a busca por orgasmo ou ejaculação. Após o término da massagem, deixei-o sozinho para um momento de relaxamento e integração. Quando voltei, percebi que ele estava se masturbando. Embora não haja julgamentos em relação a isso, eu poderia ter conduzido uma sessão de Coaching de Masturbação com Yoga Orgástica Guiada, uma abordagem da sexologia somática que está entre os serviços que ofereço.

Apesar de ele afirmar que em experiências anteriores com a massagem os terapeutas o descreveram como apático, ele se mostrou satisfeito com a sessão. Contudo, tenho certeza que, se tivesse se entregado mais e estivesse mais consciente de seu próprio processo, poderíamos ter potencializado sua experiência, levando-o a um verdadeiro flow com transe erótico .

Esse exemplo ilustra como a falta de consciência e entrega pode impactar a experiência de fluxo. A importância da intenção e da comunicação clara não pode ser subestimada, pois são essenciais para que tanto o praticante quanto o terapeuta possam explorar o prazer consciente em sua plenitude, isso também é válido para as nossas relações sexuais e as mais variadas situações que vão além da sexualidade.

O sistema nervoso e o prazer: simpático vs. parassimpático

Quando falamos de prazer inconsciente, é comum que o sistema nervoso simpático seja ativado, responsável por respostas rápidas e excitantes, como o aumento da frequência cardíaca e ativação do modo "luta ou fuga" e ejaculação. Isso ocorre em momentos de excitação ou busca desenfreada por prazer. Se não for equilibrado com momentos de relaxamento e tranquilidade, esse sistema pode ficar sobrecarregado e causar, inclusive, disfunção erétil, vaginismo e anorgasmia.

O prazer consciente, por sua vez, tende a ativar o sistema nervoso parassimpático, que promove relaxamento, tranquilidade, conexão profunda, vascularização dos órgãos genitais, ou seja, mais ereção e prazer. Essa é a chave para muitas práticas tântricas que trabalhamos para equilibrar o sistema nervoso, permitindo que as sensações sejam mais prolongadas e menos frenéticas, com maior presença e conexão.

Ao participar de uma prática tântrica (meditação, massagem tântrica ou sexo tântrico), você pode notar como seu corpo e mente começam a desacelerar. A excitação intensa do sistema simpático é equilibrada com a tranquilidade que favorece uma experiência de prazer mais duradoura e consciente. É importante fluir entre esses dois sistemas. Nós, terapeutas, sempre buscamos incentivar a consciência sobre eles para que clientes (interagentes) apliquem em suas vidas íntimas e relações sexuais, ganhando maestria no direcionamento desse jogo entre excitação e relaxamento. Quais sãos as chaves e segredos para isso? Respirar corretamente, soltar seu som e seu movimento (quando eu digo movimento, me refiro ao corporal mas também movimentação energética ok?), aplique todos esses elementos com sinergia e fluidez, sem esquecer do foco total nas sensações.

Para quem recebe a massagem tântrica, é importante compreender que nas primeiras sessões está tudo bem se você optar por ficar parado(a) e apenas observar as sensações, mas é interessante evoluir para outras experiências como variar os ritmos respiratórios, se permitir a rebolar, tremer, espamodicar e gemer. Se você estiver com um(a) terapeuta experiente é o caminho natural e saiba que trata-se de um espaço totalmente seguro sem nenhum tipo de julgamento para que você tenha a oportunidade de se expressar de uma forma diferente da qual está acostumado(a) nas relações sexuais.

Psicologia positiva: hedonismo e eudaimonia

A psicologia positiva também oferece uma importante distinção entre o hedonismo, que busca o prazer imediato, e a eudaimonia, que foca em uma vida com significado e propósito. O prazer inconsciente está relacionado ao hedonismo – a busca constante por gratificação momentânea – enquanto o prazer consciente se alinha à eudaimonia, onde o bem-estar é construído com base em escolhas que refletem nossos valores mais profundos.

Pense em duas situações: a primeira, onde você se entrega ao prazer momentâneo de um vício qualquer e, logo depois, sente o vazio e a necessidade de repetir o comportamento. Agora, compare com uma experiência prazerosa mais consciente, como uma prática tântrica ou uma conversa profunda com o um(a) melhor amigo(a) ou parceiro(a). Na primeira situação, você experimenta um prazer que rapidamente se esvai, enquanto na segunda, o prazer se transforma em um estado duradouro de conexão e satisfação.

Escolhendo o seu prazer

Diante de tudo que apresentei, fica claro que a diferença entre prazer consciente e inconsciente não se resume apenas a uma escolha de comportamento, mas se reflete nas conexões profundas que fazemos com nós mesmos, com o mundo ao nosso redor, com as outras pessoas. O prazer consciente não é apenas mais duradouro, é um prazer onde as experiências se acumulam, se complementam e se expandem, capaz de transforma nossa maneira de viver e nos permitir a experimentar uma vida de forma mais plena e significativa.

Ao escolher o prazer consciente, estamos não apenas buscando satisfação momentânea, mas criando um caminho de autoconhecimento e crescimento pessoal. E, ao final, a verdadeira essência do prazer está em nossa capacidade de nos conectar de forma mais profunda e duradoura – conosco, com os outros e com o universo que nos cerca.

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Christiano Kubis - Dhyan Bahvti é Terapeuta Corporal e Vibracional com Abordagem Tântrica em Curitiba. Facilitador de práticas tântricas individuais, terapia tântrica, massagem tântrica, meditação, cursos privativos, atividades em grupo e coordenador de Formação em Tantra e Capacitação em Terapêutica Tântrica.

Saiba mais sobre o Bahvti: https://www.labdespertar.com/dhyanbahvti

Referência: KUBIS, Christiano; BAHVTI, Dhyan. "Prazer que transforma ou prazer que destrói? O que você precisa saber agora. Quais são as diferenças e perigos entre o prazer consciente e inconsciente?" em Integrolab Labdespertar Desenvolvimento Humano: https://www.labdespertar.com/. Publicado em: out. 2024.

ITILAB - Instituto de Tantra Integrolab Labdespertar Desenvolvimento Humano | Integrolab Labwakening - Brazilian Tantra Institute

Integral Flow Método Labdespertar de Massagem Tântrica - Integral Flow Method of Labwakening Brazilian Tantra Massage | Referência em Massagem Tântrica em Curitiba: https://www.labdespertar.com/integralflow